terça-feira, 21 de julho de 2009

"Preferência para as bicicletas" (opinião de Fábio Duarte)

As ciclovias ou ciclofaixas são uma infraestrutura para a bicicleta. Mas uma cidade que dá atenção aos ciclistas não se restringe a elas. Ver a bicicleta como um meio de transporte, não exclusivamente de lazer, é colocá-la em vias preferenciais, dentro do transporte público (nos ônibus ou ao menos com bicicletários junto aos terminais e principais paradas de ônibus), compartilhando vias exclusivas de transportes públicos, em zonas com velocidade controlada.

No caso de Curitiba, sempre digo que a bicicleta será levada a sério quando houver uma ciclofaixa na Avenida Visconde de Guarapuava. Se Nova Iorque criou ciclofaixas no centro de Manhattan, seu centro financeiro e comercial, se Paris criou faixas exclusivas e outras compartilhadas com ônibus na Rue Rivoli, umas das mais movimentadas de seu centro, não há nenhuma justificativa técnica de não termos uma ciclofaixa na Visconde de Guarapuava.

O Plano Cicloviário em execução pela prefeitura, capitaneado pelo Ippuc, é certamente de grande valia. Mas poderia ser aberto à discussão – e principalmente, aberto à inovação. O Ippuc já foi um dos grandes centros de inovação urbana do Brasil – talvez O centro de inovação.

O transporte não motorizado e coletivo é o investimento mais em voga em lugares tão grandes e até mais complicados que Curitiba (Nova Déli, na Índia, Melbourne, na Austrália, e São Paulo estão investindo com força nisso). Curitiba tem o histórico de investir em transporte público de qualidade. E também sempre teve coragem de inovar. Este é o momento de inovar.

Bruno Latour, um grande estudioso das inovações tecnológicas, disse recentemente que ninguém imaginava fazer sentido pensar em bicicletas nas cidades há 20 anos, e tampouco em bondes. Hoje, é o que se faz nas cidades.

Há 20 anos Curitiba criou sua rede de ciclovias. Agora é insuficiente, mas foi inovadora. É hora de inovar novamente. Se nossa aposta, em Curitiba, é pelo transporte público e pelo transporte não poluente e integrados ao meio urbano, novamente devemos colocar as ideias para circular. Uma ciclovia circundado o parque Barigui é boa? Sim. Melhor seria uma ciclofaixa ligando o Cajuru ao Barigui, passando pelo comércio, pelas universidades e escolas, pelo centro - enfim, colocando um transporte não poluente em evidência, com os projetos de qualidade que Curitiba sabe fazer.

Fábio Duarte é diretor do mestrado de Gestão Urbana da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR)

Fonte: http://portal.rpc.com.br/gazetadopovo/vidaecidadania/conteudo.phtml?tl=1&id=906936&tit=Preferencia-para-as-bicicletas

Será mais uma promessa??

Trinta anos depois de implantadas as primeiras ciclovias na cidade, a capital paranaense volta a investir nas bicicletas como meio de transporte. Uma equipe do Instituto de Pesquisa e Planejamento de Curitiba (Ippuc) está debruçada sobre o Plano Diretor Cicloviário, com o objetivo de aumentar em 87% a quilometragem de vias destinadas a bicicletas em Curitiba.

Mais que aumentar a quantidade de ciclovias e afins, a ideia é estruturar uma rede de vias destinadas a bicicletas que possibilite a mobilidade plena dos usuários com mais segurança. A iniciativa surgiu depois que uma pesquisa feita pela prefeitura mostrou que 86% dos ciclistas utilizam a bicicleta como transporte para o trabalho e não para o lazer.

O levantamento, feito com base em 2,8 mil entrevistas com ciclistas, mostrou que a maior preocupação dos usuários é com a segurança. Na maior parte das vezes, os ciclistas disputam espaço com os carros nas ruas, já que no passado as ciclovias foram pensadas com a função de lazer.

O Plano Diretor Cicloviário ainda não está finalizado, mas mostra diretrizes para resolver esse problema. O ponto de partida é a malha existente – calcula-se que Curitiba conte, hoje, com cerca de 100 quilômetros de vias destinadas a bicicletas, sendo 70 quilômetros de calçadas compartilhadas e 30 de ciclovias exclusivas.

Ampliação

De acordo com o coordenador de mobilidade urbana do Ippuc, José Álvaro Twardowski, o primeiro passo foi pensar em um projeto de recuperação e revisão da malha existente, com base em uma visão integradora. “Estamos fazendo um diagnóstico da infraestrutura existente e estudando se alguns trechos vão permanecer”, afirma.

O segundo passo será investir em campanhas educativas, para mostrar o papel do ciclista no sistema e como os condutores devem tratá-lo. O terceiro passo será investir na ampliação da malha, com quatro tipo de vias, segundo a necessidade: ciclovia, calçada compartilhada, ciclofaixa e faixa compartilhada. E é aqui que os esforços da equipe do Ippuc se concentram.

Cinco projetos já estão definidos. Em primeiro lugar, decidiu-se que mais 45 quilômetros de vias devem ser incorporadas à malha curitibana nos próximos anos, com a implantação de uma ciclofaixa na Marechal Floriano Peixoto, uma calçada compartilhada ao longo do Rio Barigui, uma ciclovia no trecho Norte da Linha Verde e outra no novo Eixo de Integração localizado no Sul da cidade.

Também está nos planos uma rede metropolitana de ciclovias, com uma extensão estimada de 42 quilômetros. O projeto está sendo desenvolvido junto ao Plano Diretor Multimodal, que abarca o novo projeto de desvio ferroviário, que seria feito seguindo os contornos rodoviários da cidade. Uma rede cicloviária seria implantada junto à nova ferrovia, ao redor da cidade e em trechos da linha férrea desativada.

Por fim, para colocar de vez os curitibanos sobre duas rodas, o Ippuc pretende complementar o plano com equipamentos de apoio como paraciclos (espécie de estacionamento aberto para bicicleta), bicicletários (estacionamentos fechados) e um sistema de bicicletas de aluguel.

Mesmo com todo o esforço, a quantidade de vias destinadas a bicicletas ainda estará longe dos 4,8 mil quilômetros de vias destinadas a carros em Curitiba. Segundo Twardowski, porém, o Plano Diretor Cicloviário será capaz de cobrir todas as possibilidades do sistema viário básico, ou seja, vias estruturais, coletoras e setoriais.

Fora dessas vias, o ciclista deverá dividir espaço com os carros. “Aí vale o que diz o Código de Trânsito Brasileiro: a bicicleta também é um meio de transporte. As campanhas educativas devem ajudar a conscientizar os motoristas”, diz Twardowski.

Fonte: http://portal.rpc.com.br/gazetadopovo/vidaecidadania/conteudo.phtml?id=906933